sábado, 11 de dezembro de 2010

Walking Dead e Criss Angel (sobre zumbis e mulheres mutiladas; truques e truques cinematográficos)


Ontem vi o primeiro episódio de Walking Dead. Certamente os fãs do gênero devem achar ele meio novelinha, muito blablaba entre uma explosão de cabeça e um zumbi mutilado. Eu achei bem bacana. É mais um a provar que, pelo menos em se tratando de roteiros, o legal está mesmo na TV a cabo americana. É uma boa aposta no final das contas. Bem executado, bem escrito, com planos bem bacanas, efeitos e maquiagem impecáveis. E aqui está o principal (que pode explicar de certa forma o blablabla do roteiro): o zumbi em si, a cabeça mutilada e a pessoa sem perna, por si só, já não impressionam muito mais (ainda que no caso da série garanta bons momentos). Se antes o legal era pensar "como esses caras fazem isso", agora já tem milhões de vídeos na internet e programas de TV que mostram o making of dos inúmeros filmes de zumbis. As passeatas de mortos-vivos que têm por aí (e teve uma recentemente em São Paulo, a da foto abaixo), já estão se bobear mais profissas que muitos filmes de baixo orçamento. Então a idéia é dar uma nova cara ao gênero. Tentar torná-lo verossímil de novo. E o roteiro é parte essencial disso.


Mas falando em efeitos, truques e aspectos relacionadas à pós-produção, acho legal eles não esconderem no material extra de divulgação como as coisas são feitas (e nem transformarem isso em show, também). Veja o vídeo abaixo por exemplo, onde vemos Robert Kirkman, criador da HQ que deu origem à série e agora produtor executivo, falar sobre o assunto ao mesmo tempo em que vemos o zumbi mutilado (o primeiro que o personagem principal vê ao sair do hospital), com tecido azul ao redor das pernas para posterior recorte do chroma.



Este zumbi mutilado serve também para ilustrar outro ponto desta discussão entre o que desconhecíamos antes e agora já conhecemos de sobra. Em uma aula, o diretor de arte espanhol Andrés Hispano usava a história da mágica para ilustrar a mudança da visão das pessoas sobre os efeitos. Dizia ele que antes nos surpreendíamos com mágicos de shows grandiosos, como David Copperfield. Este fazia um show para se ver ao vivo e o povo caía totalmente nos truques do ilusionista. Dali passamos para o David Blaine (vou pular o Mister M, desculpa), mágico minimalista que dominava a linguagem da televisão e fazia truques muito simples (quase idiotas) parecerem muito mais autênticos que os do anterior. E por último teríamos o Criss Angel, mágico que nasceu no Youtube, com truques impressionantes em vídeos de péssima qualidade (difícil para ele foi convencer os outros que a Paris Hilton tava mesmo dando bola quando tirou a foto).


Andrés usava essa mudança para falar como o público liga hoje em dia muito mais para o conteúdo do que para a definição propriamente dita (até por termos agora câmeras simples e televisões "baratas" em HD). Como exemplo, comentava que o surgimento do Dogma-95 no mesmo ano em que vazou o polêmico vídeo da Pamela Anderson com o Tommy Lee não era coincidência; os dois apontavam para esta idéia de menos definição e mais conteúdo (no caso da Pamela, que conteúdo!). E neste processo, se antes duvidávamos da produção do Copperfield, agora caímos na do Criss Angel sem contestar muito; a graça está em cair no truque afinal de contas. Mesmo ele fazendo uns truques bem safados através de pura manipulação em edição (+ atores contratados). Os truques dele viram qualquer porcaria se você passar a pensar que ele está sempre mudando coisas que você não vê entre um corte e outro (e desculpa Criss, mas o Buster Keaton já fazia isso bem melhor que você quase um século atrás). O vídeo abaixo, que ele parte uma mulher ao meio, já é um clássico (e aqui, finalmente, a ligação com o outro zumbi, do Walking Dead).



Em tempo: se quiser saber qual é o truque da mágica acima, e que tem relação com edição, como falei, é só clicar aqui. Fácil e rápido, como a internet sempre possibilita.

2 comentários:

  1. Eu preciso discordar: o principal problema do Walking Dead é, sim, o roteiro. O legal dos filmes de zumbis não é ver os mortos-vivos em si, mas sim ver a civilização desabar, os valores mudarem da noite para o dia, as pessoas se transformarem e mostrarem simultaneamente o seu melhor e o seu pior. Nada disso existe em Walking Dead: são as mesmas pessoas boazinhas, em uma civilizaçãozinha à parte, ocasionalmente convivendo com zumbis como se eles fossem mosquitos que incomodam e precisam ser mortos. Até os malvados são pouco malvados, e só servem para mostrar toda a nobreza dos personagens. É apenas um novelão, mas, bem, tem zumbis, então não dá para perder.

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  2. Boa. Aqui cabe uma ressalva: o post é um elogio ao primeiro episódio, quando eu devia ter na verdade parado de assistir a série. Nos episódios seguintes a coisa se arrasta de forma bizarramente monótona a ponto de: "por que voltar lá para tentar salvar o cara chato?" seja entendido como, oras, pq se não, não temos história e conseqüentemente, a série. Os personagens provavelmente a essa altura estão tão ou mais perdidos que os roteiristas. Não há objetivo ou conflito na trama, não há dualidade nos personagens (feitos por atores ruins e feiosos), não há expectativa, clima ou surpresa. Existe um "hatch" no final da temporada (o que me lembra alguma outra coisa...) e zumbis, é claro. E essa é mesmo a única coisa imperdível da série. (o que faz com que os aspectos técnicos descritos aí acima continuem valendo, não?)

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