segunda-feira, 1 de março de 2010

Montagem e video-games (ou: como fazer um curta-metragem de ficção científica com 500 dólares)

Continuando o tema de como a montagem é amiga do baixo orçamento, temos aqui mais um bom exemplo, dessa vez um curta-metragem de ficção científica. O curta "Scape from City-17" dos Purchase Brothers (nome curioso inclusive) é mais um caso de como se apropriar das novas tecnologias e misturar diferentes elementos para fazer um produto com uma cara extremamente inovadora mas feito de forma simples e barata. Aqui a graça é saber jogar com os elementos que estão disponíveis na Internet (de domínio público, leia-se) e saber integrá-los nos softwares de edição e produção 3D. Baseado totalmente na estética do video-game Half-life e usando assets (que são qualquer coisa existente nos jogos, de fundos e texturas a modelos 3D dos personagens e lugares, em geral acessíveis a quem sabe manipulá-los) exportados do próprio jogo, os irmãos souberam misturar esses elementos com imagens rodadas por eles em locações no Canadá para criar essa história futurística (que mais funciona como um teaser de outra história na verdade - daí até o parte 1 que eles colocam).


O que falha em tudo isso é justamente a história contada. Ao contrário de filmes antigos de ficção científica caseiros em que poderíamos ter histórias muito boas com efeitos risíveis, já que estes eram muito caros de serem produzidos, o que vemos agora é o contrário: a história não é mesmo o que eles mais querem passar; o objetivo aqui é chamar atenção para o fato de que eles conseguem convencer o público e fazer filmes muito interessantes visualmente com pouquíssimos recursos. O que levando em conta o cenário atual de Hollywood, em plena crise, parece uma idéia realmente interessante de se ter.

O curta funcionou e a atenção que eles conseguiram foi tanta que já foram chamados pelos criadores do game para futuros projetos, já estão pensando na continuação e até na possibilidade da ampliação deste universo para um possível longa-metragem. A mesma estratégia foi feita pelo sul-africano Neil Blomkamp, que com um curta (e uma excelente idéia e roteiro) conseguiu atrair a atenção de Peter Jackson (diretor da trilogia "O senhor dos anéis") para daí filmar o interessante Distrito 9, que concorre neste domingo ao Oscar de melhor filme, melhor edição e melhores efeitos especiais (entre outros). Por falar em Distrito 9, os irmãos diretores já até fizeram uma propaganda da Coca-cola (não Corta-e-cola, não confundam) onde mais parece que a nave do filme original foi substituída por gigantescas latinhas do refrigerante (que até se reproduzem, gerando pequenas latinhas voadoras).

A conclusão de tudo isso é que coisas realmente interessantes estão aparecendo no Cinema mundial, vindas de diferentes partes do globo por pessoas novas e que simplesmente sabem ter boas idéias (não necessariamente têm muito dinheiro) e sabem fazer isso sozinhas, sem esperar que um grande estúdio ou lei de incentivo (no caso brasileiro) caia no colo patrocinando a mirabolante idéia. E boa parte dessas idéias estão associadas a um uso inovador do processo de edição. É o postulado punk do Do It Yourself (DIY) associado ao cinema atual.

O curta você vê abaixo. Para saber mais sobre ele, veja a matéria publicada no site da Wired. A propaganda da Coca-cola feita por eles você vê aqui.

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